sexta-feira, 27 de maio de 2011
sábado, 21 de maio de 2011
Desastre de Chernobyl na Ucrânia, 1986 e Desastre Cési-137 no Brasil em Goiânia, 1987
No ano de 1986, os operadores da usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, realizaram um experimento com o reator 4. A intenção inicial era observar o comportamento do reator nuclear quando utilizado com baixos níveis de energia. Contudo, para que o teste fosse possível, os responsáveis pela unidade teriam que quebrar o cumprimento de uma série de regras de segurança indispensáveis. Foi nesse momento que uma enorme tragédia nuclear se desenhou no Leste Europeu.
Entre outros erros, os funcionários envolvidos no episódio interromperam a circulação do sistema hidráulico que controlava as temperaturas do reator. Com isso, mesmo operando com uma capacidade inferior, o reator entrou em um processo de superaquecimento incapaz de ser revertido. Em poucos instantes a formação de uma imensa bola de fogo anunciava a explosão do reator rico em Césio-137, elemento químico de grande poder radioativo.
Com o ocorrido, a usina de Chernobyl liberou uma quantidade letal de material radioativo que contaminou uma quilométrica região atmosférica. Em termos comparativos, o material radioativo disseminado naquela ocasião era assustadoramente quatrocentas vezes maior que o das bombas utilizadas no bombardeio às cidades de Hiroshima e Nagasaki, no fim da Segunda Guerra Mundial. Por fim, uma nuvem de material radioativo tomava conta da cidade ucraniana de Pripyat.
Ao terem ciência do acontecido, autoridades soviéticas organizaram uma mega operação de limpeza composta por 600 mil trabalhadores. Nesse mesmo tempo, helicópteros eram enviados para o foco central das explosões com cargas de areia e chumbo que deveriam conter o furor das chamas. Além disso, foi necessário que aproximadamente 45.000 pessoas fossem prontamente retiradas do território diretamente afetado.
Por Rainer Sousa
No mês de setembro de 1987, a violação de uma Bomba de césio-137( utilizada no tratamento do câncer), por sucateiros que estava abandonada nos escombros do antigo Instituto de Goiano de Radioterapia (IGR) da cidade de Goiânia, no Brasil, mata quatro pessoas e contamina 249. Três outras pessoas morreriam mais tarde de doenças degenerativas relacionadas à radiação. “Não há progresso sem energia e é preciso preparar o futuro com grande antecedência”. Pois bem, era o que preconizava um dos itens do programa energético brasileiro na década dos anos 80. Pois muito bem, o anunciado futuro, antecipar o fim de vários brasileiro, ceifando-lhes a vida com o “pó” da morte, como ficou conhecido o césio-137 que outrora combatia câncer, agora por fatalidade ou negligência tira-lhes á vida.
No entanto o desleixo brasileiro, trás a tona um acidente radiativo de grande gravidade e tão vergonhoso, entrando para a historia nuclear em todo o mundo como o maior desastre radiológico do planeta. O acidente teve como causa a negligência das autoridades, que não tiveram o necessário cuidado ao desativar um aparelho de radioterapia, e a “ignorância” do proprietário do Ferro Velho Auto Mecânico. Levando deste feito, a contaminação de várias pessoas e o meio ambiente A Bomba ou a cápsula de césio 137, era constituída por um cilindro de aço inoxidável com um revestimento duplo de chumbo. A cápsula do césio possuía 3 cm de comprimento e90 gramas de massa. O material radioativo estava no interior deste cilindro. Para fins terapêuticos, a cápsula tinha uma janela, pela qual passava a radiação gama utilizada no tratamento do câncer. Está janela permitia, também, que se pudesse observar alguma luminescência, fazendo com que a cápsula brilhasse no escuro. Foi à curiosidade despertada por este brilho fosforescente que levou à abertura da cápsula, liberando assim o 137Cs em pó. A cápsula foi arrombada no quintal da casa de um dos sucateiros e estava colocada sobre um tapete, à sombra de uma mangueira. O pó de 137Cs foi colocado dentro de um vidro e levado para dentro de casa, onde foi guardado em um armário. Entretanto, uma parte do pó não foi recolhida, ficou no chão. As chuvas que caíam no local, na época do acidente, ajudaram o solo na absorção do pó radioativo, ocasionando sua contaminação. A mangueira, sob a qual a cápsula foi violada, também foi contaminada. O pó de césio, radioativo e fosforescente, não era frio nem quente, não tinha cheiro, não criava gases, enfim, era aparentemente inofensivo. As pessoas se admiravam com o pó brilhante, pegavam-no com as mãos e uma criança, achando-o parecido com purpurina, o passou em seu corpo. O pó inclusive foi ingerido por esta criança, que além da contaminação externa era constantemente irradiada, devido à contaminação interna. Por onde as pessoas contaminadas andavam, espalhavam mais a contaminação ou, pelo menos, irradiavam as pessoas nesses locais. Assim o pó de 137Cs se alastrou rapidamente.
O acidente chegou ao conhecimento público somente quando um médico suspeitou que as queimaduras de alguns de seus pacientes poderiam ter sido causadas por radiações, o que foi prontamente confirmado por um físico ao medir os níveis de radiação dos pacientes.
A imprensa divulgou o caso, as autoridades se mobilizaram e foram chamados para Goiânia médicos, físicos e especialistas em radiações do Brasil e alguns do exterior. O pânico se espalhou pela cidade de Goiânia, cuja população não foi devidamente informada sobre os possíveis desdobramentos do acidente. Ao ver prédios inteiros sendo evacuados e barricadas impedindoa entrada nos bairros vizinhos ao ferro velho, por onde andavam apenas técnicos vestidos com estranhas roupas, à população previu o pior. A partir do exemplo de Goiânia, a Comissão de Energia Nuclear (CNEN) recolheu fontes similares à do Instituto Goiano de Radioterapia (IGR), que apresentava o Césio-137 aglutinado em uma matriz altamente solúvel, o que facilitou a contaminação. Hoje, são usadas fontes metálicas e um acidente como o de Goiânia dificilmente ocorreria.
A descontaminação produziu aproximadamente dez toneladas de lixo contaminado. São roupas, móveis, animais, árvores, restos de solo, paredes de casas e partes da pavimentação de ruas contaminados que estão enterrados e protegidos por paredes de40 cm de espessura.
Mais sinopses sobre O maior desastre radiológico do planeta: O acidente nuclear de Goiânia
No entanto o desleixo brasileiro, trás a tona um acidente radiativo de grande gravidade e tão vergonhoso, entrando para a historia nuclear em todo o mundo como o maior desastre radiológico do planeta. O acidente teve como causa a negligência das autoridades, que não tiveram o necessário cuidado ao desativar um aparelho de radioterapia, e a “ignorância” do proprietário do Ferro Velho Auto Mecânico. Levando deste feito, a contaminação de várias pessoas e o meio ambiente A Bomba ou a cápsula de césio 137, era constituída por um cilindro de aço inoxidável com um revestimento duplo de chumbo. A cápsula do césio possuía 3 cm de comprimento e
O acidente chegou ao conhecimento público somente quando um médico suspeitou que as queimaduras de alguns de seus pacientes poderiam ter sido causadas por radiações, o que foi prontamente confirmado por um físico ao medir os níveis de radiação dos pacientes.
A imprensa divulgou o caso, as autoridades se mobilizaram e foram chamados para Goiânia médicos, físicos e especialistas em radiações do Brasil e alguns do exterior. O pânico se espalhou pela cidade de Goiânia, cuja população não foi devidamente informada sobre os possíveis desdobramentos do acidente. Ao ver prédios inteiros sendo evacuados e barricadas impedindoa entrada nos bairros vizinhos ao ferro velho, por onde andavam apenas técnicos vestidos com estranhas roupas, à população previu o pior. A partir do exemplo de Goiânia, a Comissão de Energia Nuclear (CNEN) recolheu fontes similares à do Instituto Goiano de Radioterapia (IGR), que apresentava o Césio-137 aglutinado em uma matriz altamente solúvel, o que facilitou a contaminação. Hoje, são usadas fontes metálicas e um acidente como o de Goiânia dificilmente ocorreria.
A descontaminação produziu aproximadamente dez toneladas de lixo contaminado. São roupas, móveis, animais, árvores, restos de solo, paredes de casas e partes da pavimentação de ruas contaminados que estão enterrados e protegidos por paredes de
Mais sinopses sobre O maior desastre radiológico do planeta: O acidente nuclear de Goiânia
(Fonte: http://pt.shvoong.com/medicine-and-health/1680480-maior-desastre-radiol%C3%B3gico-planeta-acidente/
Tem alguns posts com alguns relatos do césio-173 e de chernobyl
Tem alguns posts com alguns relatos do césio-173 e de chernobyl
domingo, 15 de maio de 2011
Que tipo de cidade se deseja? Partida ou integrada? Com ou sem engarrafamentos monstruosos? Que tipo de transporte queremos?
Quem associa metrô à invasão dos bárbaros não tem direito de exigir bons serviços públicos.
Não quero metrô perto de casa porque... bem, porque não preciso. Tenho carro e motorista. A minha família tem vários carros. Com o metrô ao lado, o bairro se degrada, se adensa. Somos mais abordados por pessoas flutuantes. Vem uma gente diferenciada de outros lugares. Vem drogado, mendigo, camelô. E com isso mais roubo, mais violência. Quem pensa e fala assim é uma minoria não esclarecida e barulhenta da zelite do Sudeste. Haja preconceito, egoísmo e ignorância.
O vocabulário e os argumentos são tão toscos e tortuosos que o movimento contra o metrô em áreas chiques de São Paulo e do Rio de Janeiro virou motivo de chacota na internet. Um churrascão com farofa, cachaça e som portátil foi convocado para este fim de semana em frente ao Shopping Higienópolis, bairro paulistano elegante de 55 mil moradores. É um protesto popular contra a cegueira de alguns.
O estopim foi o plano de mudar a estação prevista na esquina da Rua Sergipe com a Avenida Angélica, a principal do bairro. Em agosto do ano passado, a psicóloga Guiomar Ferreira, de 55 anos, há 25 em Higienópolis, comprava vinho quando resolveu abrir a boca: “Eu não uso metrô e não usaria. Isso vai acabar com a tradição do bairro. Você já viu o tipo de gente que fica ao redor das estações do metrô? Drogados, mendigos, uma gente diferenciada...”
O que poderia ser uma opinião isolada virou um abaixo-assinado de 3.500 moradores. Eles não precisam de metrô. Mas reclamam do trânsito caótico e precisam muito de pobres. Cozinheira, passadeira, faxineira, motorista e jardineiro chegam às casas dos patrões em transporte público. E penam em ônibus lotados, precários e caros.
Dona Guiomar não representa todos os ricos do bairro. Mas ela e seus colegas da Associação Defenda Higienópolis fizeram tanta pressão que, inicialmente, conseguiram mudar o metrô para o Pacaembu, onde ele atenderia menos passageiros. Não se sustenta a alegação oficial de “critérios técnicos” para a mudança. É tão óbvio que o poder público cedeu ao lobby de moradores influentes que já se estuda um terceiro lugar para a estação da discórdia. O mais grave de tudo é o governo colocar o interesse de uma minoria acima do bem coletivo.
Que tipo de cidade se deseja? Partida ou integrada? Com ou sem engarrafamentos monstruosos? Que tipo de transporte queremos? O elitista, obsoleto e poluidor “um carro para uma pessoa” ou um transporte digno de massas? “Massa” inclui o operário, a empregada, o professor, o estudante, a madame, o profissional liberal, o empresário. É assim no Primeiro Mundo. Turistas brasileiros elogiam as redes de metrô na Europa e nos Estados Unidos. Preferem hospedar-se perto de uma estação, por conforto. O que os torna tão cegos quando voltam ao patropi?
Não é só em São Paulo que alguns tentam se fechar em seu gueto, como se adiantasse. Acontece também no Rio, onde ricos convivem com favelas. Moradores do Quadrilátero do Charme em Ipanema, que reúne as maiores grifes da cidade, são contra a futura estação de metrô na Praça N. Sa. da Paz. Um abaixo-assinado diz que a primeira estação do bairro, na Praça General Osório, “trouxe um adensamento insuportável, e o morador perdeu o direito a sua praia no fim de semana”.
“Não podemos deixar que o nosso bairro vire um despejadouro de gente que vai usá-lo e deixar o bagaço”, continua o abaixo-assinado. “Não somos contra o metrô, mas Ipanema é um bairro pequeno, onde as pessoas fazem tudo a pé.” As pessoas quem, cara pálida? Essa última declaração não é só provinciana, é uma tolice mesmo. Então ninguém sai de Ipanema? Se alguém quer ir ao centro da cidade, faz o quê? Pega o carro importado com vidros pretos na garagem e enfrenta o trânsito, xinga o seu próximo, estaciona em fila dupla e deixa a chave com o flanelinha ilegal.
É natural que a população queira ordem, segurança e limpeza. Mas muitas vezes é a classe alta que promove as badernas. Quem associa metrô à invasão dos bárbaros não tem a menor noção do que significa viver em comunidade nem tem o direito de exigir serviços públicos de qualidade. É uma gente diferenciada.
protesto em São Paulo por mais metrô
"Só nado de metrô em NY, Londres e Paris"
Protestantes fazem churrascão da "gente diferenciada"
"protestante com faixas"
Churrasco da "gente diferenciada"
sábado, 7 de maio de 2011
E agora? Osama esta morto! Podemos fingir que o mundo estará mais seguro e melhor a partir de agora? Ninguém acredita nisso.
Osama está morto. Viva Obama! O acerto de contas foi americano. O mundo se sentiu vingado num primeiro momento. Todos lembramos o que fazíamos quando, há quase dez anos, um atentado bárbaro matou cerca de 3 mil inocentes nas Torres Gêmeas. Não choramos agora pelo terrorista. Mas o que aconteceu na semana passada não enobrece a democracia. A balbúrdia de contradições oficiais reforça o mito Osama e adia seu sepultamento no inconsciente coletivo.
“Acho ótimo matá-lo. Quer prender para interrogar o quê? E os 3 mil que ele mandou morrer?”, disse nosso poeta Ferreira Gullar. Essa foi a reação normal. Não só dos ocidentais. Muçulmanos, entrevistados no mundo inteiro, se disseram aliviados com o “desaparecimento” de Osama bin Laden. Por um motivo simples: o terror e o fanatismo distorcem o islã. Osama era o símbolo-mor de uma face cruel e minoritária do islamismo, que prega o sacrifício de civis inocentes e o suicídio de jovens mártires como tática de poder na guerra santa. Carismático, filho de burgueses, Osama incomodava por comandar a Al-Qaeda nas sombras.
Barack Obama era candidato quando prometeu encontrar, prender ou matar o inimigo que humilhava seu país. Cumpriu a promessa. Sua popularidade deu um salto. Ele deixou de ser considerado um líder tíbio, relutante. O povo americano é nacionalista, protecionista e imperialista. Gosta de demonstrações de força, idolatra a bandeira. Pode ser uma generalização – mas ela define a média da população nativa e dos imigrantes naturalizados. Obama foi eleito por uma maré de decepção econômica. Conquistou jovens e velhos, idealistas e desiludidos, de ideologias diversas. Seu ótimo slogan “Yes, we can” era vago o bastante para ser completado da maneira mais conveniente a cada um. Sim, nós podemos tudo?
Podemos entrar em outro país para capturar um terrorista sem autorização local? Talvez sim, em raras exceções. Violar essa regra do Direito Internacional parece mais aceitável do que abrigar um homicida do porte de Osama bin Laden. Sua fortaleza murada ficava em Abbottabad, uma cidade de classe média habitada por famílias de militares, a apenas 56 quilômetros da capital paquistanesa. Se um país – no caso o Paquistão – posa de aliado, mas é suspeito de proteger um terrorista que prega assassinatos em massa, seria crime ou cautela não alertar o governo de Islamabad?
Podemos torturar presos para chegar ao terrorista? Podemos executar o terrorista, mesmo que ele não ameace com uma arma? Podemos jogar o corpo ao mar sem sepultá-lo? Moralmente, não. Podemos censurar a divulgação da foto do morto? Eticamente, não. Podemos confundir a opinião pública com uma mentira diferente a cada dia? Claro que não. Podemos fingir que o mundo estará mais seguro e melhor a partir de agora? Ninguém acredita nisso. Podemos dizer que “a justiça foi feita”? Sim, mas com desvios. As imagens de Osama morto são de interesse público. A censura provoca mais danos que benefícios. E a comunicação do Pentágono precisa ser disciplinada – porque nem eles mesmos se entendem sobre o que realmente aconteceu.
Entende-se a preocupação dos Estados Unidos em não acirrar a ira de fanáticos ao exibir Osama morto. Não se entende por que os exímios atiradores da tropa secreta da Marinha, conhecida como Seal Team 6, precisaram desfigurar seu rosto a curta distância – ele poderia continuar um cadáver apresentável, não? Entende-se que tenham preferido matá-lo a prendê-lo para evitar que, detrás das grades, continuasse a exercer uma liderança maligna. Entende-se que era melhor matar sem plateia do que transformar em espetáculo a execução pública de um Osama condenado à morte pela Justiça. Entende-se que era melhor não criar, com seu túmulo, um local de culto, peregrinação e manifestações de ódio aos dois lados.
“Osama não é um troféu. Não queremos transformá-lo num mito”, afirmou Obama, ao justificar a morte sem corpo. Osama bin Laden é um mito e um troféu, não importa o que se diga agora. E seu desaparecimento no mar, sem fotos, cercado de sigilo e contradições, só reforça a dupla aura que Obama deseja evitar.
quarta-feira, 4 de maio de 2011
Detesto a burca, mas a nova lei francesa – que multa e prende quem usar o traje – só acirra a intolerância
Quando eu vi uma mulher de burca pela primeira vez fiquei indignada, e cheia de perguntas sem resposta. Eu tentava ver os olhos da mulher por trás da tela negra. Seria jovem, idosa? Seu olhar seria resignado ou um pedido mudo de socorro? Conseguiria respirar? Culpei os homens e o fanatismo islâmico. Ali estava uma mulher condenada à ausência de desejos.
Hoje, eu me vejo condenando a nova lei na França. O governo de Nicolas Sarkozy decidiu multar em € 150 toda mulher que, num espaço público, se cobrir com dois tipos de véus muçulmanos: a burca e o niqab, que só insinuam ou mostram os olhos. Andar dentro de carros, ir a locais de culto e trabalhar com esses véus pode. Mas caminhar, ir a parques, museus, hospitais etc., não. A lei permite o xador e o hijab, que deixam a face exposta, e não cita o islamismo ou credos religiosos. Proíbe apenas “a dissimulação do rosto”. O slogan é: “A República se vive com o rosto descoberto”.
O que a França consegue com isso? Transformar um símbolo de opressão num símbolo de autodeterminação religiosa e até feminina. Muitos se rebelam contra a arrogância do Estado que decide determinar como a mulher deve se vestir. Chrystelle Khedouche, francesa de 36 anos que se converteu ao islã, disse: “Decidi não usar o véu islâmico... agora, me obrigar a não usar é suprimir minha liberdade”.
Antes que o fundamentalismo católico, ateu ou feminista desabe sobre mim, vamos aos fatos, despidos de preconceitos. Há 5 milhões de muçulmanos na França. Menos de 2 mil mulheres usam burca ou niqab. Em Paris, não passam de 800. Elas se concentram em bairros de imigração árabe. Pela lei, policiais podem pedir que a mulher retire o véu para se identificar, mas não podem forçá-la a nada. Caso ela se recuse, eles a levarão à delegacia, e ela será multada. Essa minoria de muçulmanas já disse não se opor a mostrar o rosto ao pegar filhos na escola, ou à entrada de um banco ou museu. Mas se nega a abrir mão do véu.
Por trás da letra da lei, existe hipocrisia. Sarkozy precisa de medidas populares para melhorar suas chances de reeleição. A maioria dos franceses apoia o veto aos véus. Cita valores laicos e de liberdade da República francesa. São argumentos que soam legítimos. O véu integral, que não é pré-requisito no Alcorão, fere a dignidade da mulher por subtraí-la da sociedade. Muçulmanas obrigadas pelo marido a se cobrir estariam, enfim, livres para mostrar o rosto. É verdade. Mas e as que não abrem mão de se vestir assim? A França estaria violando seus direitos humanos.
Há quem fique chocado com as mulheres nuas de pernas abertas, deitadas ou de quatro, nas bancas de revistas. Ou com as prostitutas semidespidas que se oferecem a clientes nas ruas. Serão todos multados e detidos em nome da República? O que determina a dignidade feminina se elas se despem ou se cobrem por vontade própria, por fé ou dinheiro, e não por submissão?
Um argumento hipócrita é o da segurança. Pessoas só com os olhos de fora podem ser terroristas disfarçados. Como se pessoas bombas, assassinos em série ou mártires fanáticos precisassem de burca para matar e morrer. Quando eu estava em Nova York em meio à nevasca, fui uma involuntária ameaça à segurança. Usava chapéu, sobretudo até os pés e echarpes em torno do pescoço e da face para evitar o vento cortante. Minha visão escapava ao agasalho, mas usei óculos de sol para não lacrimejar. O argumento da segurança não é racional. E os franceses se orgulham de ser racionais.
Motociclistas de capacete, cristãos carnavalescos ou mascarados em procissões religiosas, todos podem ocultar o rosto. Isso leva a nova lei a parecer xenófoba. Sarkozy talvez personifique o sentimento nacional de aversão à imigração e aos diferentes. Alguns franceses dizem: “Quer usar a burca? Então volte para seu país, volte ao lugar de onde veio”. Para muitas delas, esse lugar é a França.
Destesto a burca e o niqab. Mas uma lei que multa e prende só acirra a intolerância. Para usar uma palavra que os franceses adoram, é “ridicule”.
Mulher afegã olha através de sua burca. Afeganistão, 13 de abril de 2002
Mulher muçulmana protesta em centro comunitário. Blackburn, Inglaterra, 14 de outubro de 2006
Kenza Driderconcede entrevista em Paris no primeiro dia de proibição do "niqab" ou véu integral. A proibição vigora a partir de hoje em lugares públicos da França. Paris, 11 de abril de 2011.
Modelos usam véu durante um desfile em Tekbir Giyim. Turquia, 20 abril de 2008
Mulher muçulmana tira uma fotografia durante um desfile em Tekbir Giyim. Turquia, 20 de abril de 2008.
Modelo desfila na passarela com cabeça coberta por véu durante o show da Sterms no Hotel Sheraton. Turquia, 03 de março de 2008.
Modelo caminha na passarela com lenço na cabeça durante um desfile em Tekbir Giyim. Turquia, 20 de abril de 2008.
Modelo muçulmana se prepara para o desfile em Tekbir Giyim. Turquia, 20 de abril de 2008.
Mulher faz compras na rua principal de Istambul. Turquia, 21 de abril de 2008.
Encontro de amigas para compras na rua principal em Istambul. Turquia, 21 de abril de 2008.
Manequins em loja de Beirute. Líbano, 6 de outubro de 2010.
Pessoas olham para uma tenda do mercado que vende burcas. Londres, 20 de janeiro de 2011.
Mulher monta e veste bonecas em Depok. Indonésia, 12 de julho de 2007.
Mulheres cantam em concerto durante o "dia da paz". Afeganistão, 21 de setembro de 2010.
Cantor, compositor e ativista dos direitos humanos, Farhad Darya estende a mão para as mulheres enquanto canta. Afeganistão, 21 de setembro de 2010.
Mulheres vestidas com burcas da bandeira americana, caminham pela multidão durante manifestação. EUA, 12 de setembro de 2010.
Ministra dos Negócios Estrangeiros da Mauritânia Naha Mint Mouknass (direita) atende a uma reunião em Sirte em 08 outubro de 2010.
Mulheres costuram no departamento de produção da Tekbir. Turquia, 3 de outubro de 2007.
Mulher aprendendo a costurar em um centro de ONG em Xamar. Somália, 15 de fevereiro de 2011.
Médicas cuidam de uma recém-nascida no Hospital Hedayat. Irã, outubro de 1999.
Oficiais femininas participam da cerimônia de graduação da primeira turma de mulheres. Afeganistão, 23 de setembro de 2010.
Irã celebra o segundo gol contra a Turquia durante o jogo do grupo A nos Jogos Olímpicos da Juventude. Singapura, 12 de agosto de 2010.
Mulher de véu joga sinuca em um hotel no Golfo Pérsico. Irã, 4 de julho de 2003.
Lutadora do time nacional afegão treina no Estádio Nacional. Cabul, Afeganistão, 3 de maio de 2010.
Mulher iemenita vestindo burca tradicional mergulha na praia Al-Baraka. Iêmen, 2 de dezembro de 2010.
Mulher iemenita vestindo burca tradicional mergulha na praia Al-Baraka. Iêmen, 2 de dezembro de 2010.
Mulher afegã visita uma loja de burcas. Cabul, Afeganistão, 20 de março de 2002.
Estudantes palestinas de engenharia participam da cerimônia de formatura na Universidade Islâmica. Faixa de Gaza, 31 julho de 2005.
Manifestantes do grupo britânico "Muçulmanos Contra as Cruzadas" protestam enquanto o Papa Bento XVI passa pelo Hyde Park. Londres, 18 de setembro de 2010.
Mulheres de burca se despedem de seus parentes que estão partindo para a peregrinação religiosa. Índia, 26 de outubro de 2010.
Viúvas afegãs esperam para receber as rações mensais do Programa Alimentar Mundial (PAM) em Cabul, 26 de outubro de 2010.
Uma mulher vestida com burca tradicional passa por um tanque da Aliança do Norte perto da aldeia de Khanabad. Afeganistão, 18 de novembro de 2001.
Uma mulher atravessa a fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão. 24 de setembro de 2002.
Mulher vestida com a burca tradicional muçulmana caminha pelo pátio da mesquita Omíada. Síria, 30 de agosto de 2006.
Mulheres afegãs andam durante um dia de inverno em frente ao Palácio Darulaman. Cabul, Afeganistão, 3 de fevereiro de 2002.
Mulheres de burca passam pelo outdoor da única canditada a presidência do Afeganistão, Massooda Jalal. Afeganistão, 25 de setembro de 2004.
Mulheres afegãs votam durante as eleições parlamentares na província de Balkh. Cabul, Afeganistão, 18 de setembro de 2010.
Refugiados buscam informações sobre a mudança para um novo campo devido à superlotação. Quênia, 24 de agosto de 2008.
Mulher caminha em Herat. Afeganistão, 12 de outubro de 2010.
Mulheres usam seus celulares antes da oração do Eid al-Fitr na mesquita Istiqlal. Jacarta, Indonésia, 10 de setembro de 2010.
Mulheres tailandesas rezam durante o Eid al-Fitr em uma mesquita no sul da província de Pattani. Tailândia, 10 de setembro de 2010.
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