terça-feira, 16 de novembro de 2010

Os preconceitos são a razão dos imbecis. Abaixo o preconceito contra o nordestino. Por Tânia Alves filha de nordestino com muito orgulho



Apesar de estar viajando não hesitei em escrever sobre um assunto que fiquei sabendo, em uma conversa descompromissada. Tudo começou quando comentei que estava lendo o livro 1808 de Laurentino Gomes, e comentávamos da vinda da corte portuguesa aqui para o Brasil.
Comentei que a corte antes de ir para a cidade do Rio de Janeiro, passou na Bahia e por lá ficou uma semana, e que tinha sido pura estratégia política de D.João passar pela Bahia, “terra de todos os santos”, e então começamos a falar sobre nordestino e foi comentado sobre a digníssima “Mayara Petruso”, que fez publicações no se Twuitter, publicações essas  catastróficas sobre o nordestino, e imaginar que a “garota” é estudante de direito, portanto essa semana, mesmo aqui nesse paraíso não consegui evitar em pensar sobre o assunto e aborda-ló em meu blog para que possa discuti-ló em sala de aula.   
Então Mayara Petruso publica em seu Twitter: “Nordestino não é gente. Faça um favor a São Paulo, mate um nordestino afogado”. O show de preconceito de Mayara foi uma reação irritada e burra à vitória de Dilma Rousseff no Nordeste. Além de perder seu estágio e ser processada pela OAB de Pernambuco, “a garota”, conseguiu outra façanha. Despertou uma onda de comentários de ódio e preconceito contra os paulistas. O que não falta hoje na rede é gente como a gente, intolerante e racista.
Pensei em muita coisa que já li sobre o sertanejo, mesmo porque sou com muito orgulho filha de sertanejo, pensei em Euclides da Cunha, quem em Os sertões escreveu que “o sertanejo é antes de tudo um forte”. Alguém duvida disso? Eu não sou prova viva disso, mas para quem duvida, podemos então pensar na seca, a separação de parentes pela migração, a falta de terra, a renda menor, a oportunidade cavada á base de luta e provação, tudo isso faz deles resistentes. Não estão apenas no Nordeste. Os nordestinos estão nas portarias, construções e nos restaurantes do Rio de Janeiro e de São Paulo. A convivência no “Sul maravilha” é intensa e enriquecedora. Música, comida, festas, danças, crenças, literatura, quantas trocas podem ser feitas entre cá e lá, todos brasileiros falando a mesma língua?
Do Nordeste veio o baiano Jorge Amado. O alagoano Graciliano Ramos. O pernambucano Melo Neto. A cearense Rachel de Queiroz. O paraibano José Lins do Rego. Vieram Caetano, Gal e Bethânia. É sem fim a contribuição cultural dos nordestinos.
Mas o preconceito existe na cabeça de muitas Mayaras por aí. Um sentimento escondido que essa moça escancarou. Numa eleição em que o presidente Lula estimulou a rixa e a animosidade entre ricos e pobres, sul e norte, é normal que os ânimos continuem acirrados. Anormal é todo esse ódio e desprezo de uma estudante, e logo de Direito.
Em seu perfil no twitter, ela escreveu: “Dêem direito de voto pros nordestinos e afundem o país de quem trabalhava pra sustentar os vagabundos que fazem filhos pra ganhar o bolsa 171”. É ofensivo, triste e dá vergonha.
Mesmo assim, muitos outrso internautas se animaram com Mayara e pediram “câmara de gás no Nordeste matando geral” ou então sugeriram “separar o Nordeste e os bolsas vadio do Brasil”. É xenofobia em alto grau. O significado original de “xenofobia” é preconceito com estrangeiro, mas se aplica a esse caso. Essa turma parece considerar os nordestinos um povo estranho e inferior.
Os comentários da estudante de Direito no Twitter são crime contra os nordestinos.
Mayara tampouco sabe fazer conta. Mesmo sem os votos do Nordeste, Dilma seria a nova presidente do Brasil. Entre os paulistas, ela teve uma votação expressiva e ganhou no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. Para os tucanos fanáticos, porém, o recado do Nordeste nesta eleição fou um acinte: Dilma teve mais de 70% dos votos, uma vantagem de 10,7 milhões somente nessa região. E isso representa quase toda a diferença obtida no país. Por isso, Mayara partiu para cima dos nordestinos e virou a antiestrela da maior diversão na rede: achincalhar, caluniar, difamar.
O lado bom é que o gesto parece não ter ficado impune. A estudante responderá por crime de racismo e de incitação a homicídio, segundo a OAB de Pernambuco. E a pena é de dois a cinco anos de prisão, mais multa. Mayara talvez precise ser advogada em outro país. Na Inglaterra pode ficar difícil, pois o caso foi parar em detalhe num dos jornais mais importantes de Londres, o Daily Telegraph.
O lado ruim é que detonou uma campanha de ódio contra os paulistas. Não sei até que ponto a justiça reage com a mesma presteza contra quem demonstra preconceito contra ricos e brancos. Mas os paulistas estão sendo chamados de “bestas” e “gente que não trabalha” e “volta em palhaço”. Chega desse besteirol étnico. A eleição terminou.
Vamos deixar que o espetáculo pobre fique por conta dos políticos, em sua guerra por cargos e boquinhas. Tão excitados estão os parlamentares – paulistas, cariocas, nordestinos e sulistas – que deixaram às moscas e sem quorum, na semana passada, os salões do Congresso Nacional. Isso sim vale uma campanha no Twuitter. Voltem ao trabalho, congressistas!!

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