Apesar de estar viajando não hesitei em escrever sobre um assunto que fiquei sabendo, em uma conversa descompromissada. Tudo começou quando comentei que estava lendo o livro 1808 de Laurentino Gomes, e comentávamos da vinda da corte portuguesa aqui para o Brasil.
Comentei que a corte antes de ir para a cidade do Rio de Janeiro, passou na Bahia e por lá ficou uma semana, e que tinha sido pura estratégia política de D.João passar pela Bahia, “terra de todos os santos”, e então começamos a falar sobre nordestino e foi comentado sobre a digníssima “Mayara Petruso”, que fez publicações no se Twuitter, publicações essas catastróficas sobre o nordestino, e imaginar que a “garota” é estudante de direito, portanto essa semana, mesmo aqui nesse paraíso não consegui evitar em pensar sobre o assunto e aborda-ló em meu blog para que possa discuti-ló em sala de aula.
Então Mayara Petruso publica em seu Twitter: “Nordestino não é gente. Faça um favor a São Paulo, mate um nordestino afogado”. O show de preconceito de Mayara foi uma reação irritada e burra à vitória de Dilma Rousseff no Nordeste. Além de perder seu estágio e ser processada pela OAB de Pernambuco, “a garota”, conseguiu outra façanha. Despertou uma onda de comentários de ódio e preconceito contra os paulistas. O que não falta hoje na rede é gente como a gente, intolerante e racista.
Pensei em muita coisa que já li sobre o sertanejo, mesmo porque sou com muito orgulho filha de sertanejo, pensei em Euclides da Cunha, quem em Os sertões escreveu que “o sertanejo é antes de tudo um forte”. Alguém duvida disso? Eu não sou prova viva disso, mas para quem duvida, podemos então pensar na seca, a separação de parentes pela migração, a falta de terra, a renda menor, a oportunidade cavada á base de luta e provação, tudo isso faz deles resistentes. Não estão apenas no Nordeste. Os nordestinos estão nas portarias, construções e nos restaurantes do Rio de Janeiro e de São Paulo. A convivência no “Sul maravilha” é intensa e enriquecedora. Música, comida, festas, danças, crenças, literatura, quantas trocas podem ser feitas entre cá e lá, todos brasileiros falando a mesma língua?
Do Nordeste veio o baiano Jorge Amado. O alagoano Graciliano Ramos. O pernambucano Melo Neto. A cearense Rachel de Queiroz. O paraibano José Lins do Rego. Vieram Caetano, Gal e Bethânia. É sem fim a contribuição cultural dos nordestinos.
Mas o preconceito existe na cabeça de muitas Mayaras por aí. Um sentimento escondido que essa moça escancarou. Numa eleição em que o presidente Lula estimulou a rixa e a animosidade entre ricos e pobres, sul e norte, é normal que os ânimos continuem acirrados. Anormal é todo esse ódio e desprezo de uma estudante, e logo de Direito.
Em seu perfil no twitter, ela escreveu: “Dêem direito de voto pros nordestinos e afundem o país de quem trabalhava pra sustentar os vagabundos que fazem filhos pra ganhar o bolsa 171”. É ofensivo, triste e dá vergonha.
Mesmo assim, muitos outrso internautas se animaram com Mayara e pediram “câmara de gás no Nordeste matando geral” ou então sugeriram “separar o Nordeste e os bolsas vadio do Brasil”. É xenofobia em alto grau. O significado original de “xenofobia” é preconceito com estrangeiro, mas se aplica a esse caso. Essa turma parece considerar os nordestinos um povo estranho e inferior.
Os comentários da estudante de Direito no Twitter são crime contra os nordestinos.
Mayara tampouco sabe fazer conta. Mesmo sem os votos do Nordeste, Dilma seria a nova presidente do Brasil. Entre os paulistas, ela teve uma votação expressiva e ganhou no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. Para os tucanos fanáticos, porém, o recado do Nordeste nesta eleição fou um acinte: Dilma teve mais de 70% dos votos, uma vantagem de 10,7 milhões somente nessa região. E isso representa quase toda a diferença obtida no país. Por isso, Mayara partiu para cima dos nordestinos e virou a antiestrela da maior diversão na rede: achincalhar, caluniar, difamar.
O lado bom é que o gesto parece não ter ficado impune. A estudante responderá por crime de racismo e de incitação a homicídio, segundo a OAB de Pernambuco. E a pena é de dois a cinco anos de prisão, mais multa. Mayara talvez precise ser advogada em outro país. Na Inglaterra pode ficar difícil, pois o caso foi parar em detalhe num dos jornais mais importantes de Londres, o Daily Telegraph.
O lado ruim é que detonou uma campanha de ódio contra os paulistas. Não sei até que ponto a justiça reage com a mesma presteza contra quem demonstra preconceito contra ricos e brancos. Mas os paulistas estão sendo chamados de “bestas” e “gente que não trabalha” e “volta em palhaço”. Chega desse besteirol étnico. A eleição terminou.
Vamos deixar que o espetáculo pobre fique por conta dos políticos, em sua guerra por cargos e boquinhas. Tão excitados estão os parlamentares – paulistas, cariocas, nordestinos e sulistas – que deixaram às moscas e sem quorum, na semana passada, os salões do Congresso Nacional. Isso sim vale uma campanha no Twuitter. Voltem ao trabalho, congressistas!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário