Mesmo de férias me indignei com tudo que vi e vejo na política, e então fazendo uma pesquisa na net encontrei um artigo que fala sobre indignação, e aqui estou eu.
Um pequeno livro, quase um panfleto, de 30 páginas, tornou-se a sensação literária na França neste Natal. O nome do autor, Stéphane Hessel, não explica o sucesso. Sua idade, 93 anos, muito menos. São dois os motivos para o livro sumir das prateleiras. O preço baixo, de 3 euro (R$ 7). E o título provocativo, Indignez-vous (Fique indignado). Por incitar os jovens ao não conformismo pacífico, Hessel virou uma celebridade pop. Lembra o candidato do PSOL à Presidência, Plínio de Arruda Sampaio, de 80 anos.
Hessel nasceu em Berlim, de pai judeu escritor e mãe pintora. Foi para Paris aos 7 anos de idade. Na Segunda Guerra Mundial, lutou na Resistência contra o nazismo. Ajudou a redigir a Declaração Universal dos Diretos do Homem, de 1948. Suas causas hoje são o Estado palestino, o meio ambiente, os direitos dos imigrantes, a liberdade de imprensa e a batalha contra o mercado financeiro. “Meu fim não está muito longe”, escreve. “Desejo, a cada um de vocês, que tenham um motivo para se indignar. Isso é precioso.”
Uma pessoa indignada não é necessariamente raivosa. Indignar-se com a injustiça é estar alerta. “Os governos. Por definição, não têm consciência”, escreveu o romancista Albert Camus, em 1954. Felizes são os homens e as mulheres que não aceitam passivamente os malfeitos dos governos e dos indivíduos. A indiferença nos faz menos humanos. A resignação pode nos tornar cúmplices.
Reduzir a lista abaixo depende da vontade política da presidente eleita e da atitude pessoal de cada um de nós. Eis 10 razões para se indignar no Brasil:
· O número de analfabetos funcionais na oitava economia do mundo. Uma contradição provocada pela contínua falta de prioridade na educação fundamental e na qualidade da instrução;
· Os absurdos privilégios dos deputados e senadores, que aprovam aumentos para si mesmos e, além do salário, dispõem de uma verba extra irreal. Com R$ 26 mil mensais, deveriam abrir mão das mordomias;
· A influência excessiva da Igreja sobre o Estado laico brasileiro. Em assuntos como células-tronco, controle da natalidade ou descriminalização do aborto, por que a religião se sobrepõe a razões da saúde e ciência? Que se respeitam a fé e os ditames do Vaticano como opções individuais, mas não como condutores de políticas públicas;
· A impunidade de assassinos confessos, como o jornalista Pimenta Neves. Com recursos em cascata permitidos por lei, quem tem dinheiro, prestígio e diploma se safa da prisão, mesmo depois de confessar crime hediondo e ser condenado por júri popular;
· A agressividade no trânsito, que torna o Brasil recordista em mortes em acidentes. O antropólogo Roberto Da Matta acaba de escrever um livro sobre isso: “Dirigir com cautela no Brasil significa ser barbeiro, bobo e idiota”. Acelerar para assustar pedestres, fechar ou outro veículos, entrar na vaga alheia, bloquear os cruzamentos, xingar. Não é assim no exterior;
· A falta de educação da elite brasileira. Boa parcela de ricos desenvolve falta de educação associada à arrogância e à crença na impunidade. Joga lixo nas praias e da janela de carros importados, dá festanças ignorando a lei do silêncio, viola a legislação ambiental e sempre quer levar vantagem;
· Os impostos escorchantes, que não resultam em benefício para a população carente. Cartéis punem o consumidor e tornam produtos e passagens aéreas no Brasil muito mais caros;
· A falta de sistema de saúde pública que dê dignidade a quem precisa e aos mais velhos. Gente morrendo em fila de hospital ou por falta de leitos e médicos é inaceitável. Quantas CPMFs o governo exigirá?;
· A falta de política de habitação decente para os mais pobres, mesmo com tantos prédios públicos vazios;
· A inexistência de transporte de massas, num país que fez opção equivocada pelo carro. Metrôs e trens, ligados a uma rede de ônibus sem ranço de máfias, deveriam transportar todas as classes sociais.
Indigne-se, mas não seja chato. Contribua para a mudança. Melhor ser um indignado otimista que um resignado deprimido. Boas festas.